Thursday 22 March 2007

Esse Texto a Bela escreveu e eu acho uma coisa maravilhosa!!

Pai Meu

Para o homem que sabe amar


Talvez por um erro de digitação convencionou-se chamar "Pai" o homem mais delicado do mundo. Já pensaram que no lugar do "i" encaixa perfeitamente a letra "z"? Não sei se é assim com vocês, mas comigo, Pai é porto seguro, norte, timão. Pai é refúgio, a palavra certa e também um puxão de orelha que dói mais na alma do que na pele. Pai é descanso, domingo de sol, sapato 44 atrás da porta e cheiro de madeira. Pai é sinônimo de afago, uma caixa de Bis numa sentada, resistência do chuveiro queimada. Pai carrega numa mão o guarda-sol, a esteira na outra, mais o jornal.

A palavra Pai me remete ao lado colorido da vida. Ouço Gal Costa e a culpa é dele. Escolhi ser decente e verdadeira me espelhando nele. Trato bem as pessoas, sejam elas quem forem, e isso é genético. Se sou honesta, afetiva e um pouco responsável agradeçam a ele. Pensando no meu Pai, lembro de barriga despencando por cima da calça, nó da gravata desalinhado e um abrigo cinza cheio de bolinhas. E agora, lágrimas nos olhos, vou dizer umas coisinhas que talvez tenham-se perdido na poeira da estrada. A gente anda tão apressado, não é? O tempo é curto, muta-se em frames, mas há amor de sobra, acreditem. Mãos à obra!

Passa um filmezinho na minha cabeça... Volto aos sete anos de idade. Jurando não estar sendo observada, roubava espuma de barbear e colocava na pia do banheiro. Um monte, assim ó, até a beira. Pegava a Barbie, com suas canelas mordidas, e lhe dava um banho como os que a gente vê no cinema. Aquela era a coisa mais perigosa do mundo - roubar a espuma de barbear do meu Pai. E ele estava ali... espiando atrás da porta e nunca disse nada. Isso sim é ser parceiro - quando eu pensava cometer o pior crime do mundo, ele era meu cúmplice. E até hoje endossa meus atos, os maus e os bons, porque está comigo e não abre. Hoje só posso dizer obrigada, Pai, pela vida, pelas conversas, pela alegria, pela certeza de nunca estarei sozinha enquanto teus olhos enxergarem os meus.

Poderia dizer que Pai é engenheiro, dentista, psicólogo, médico, professor. São Phd na vida, na arte de ser e, com a mão, arrancam 39 graus de febre. Eles são mais bonitos que o Alain Dellon em tempos de glória, mesmo quando gorduchos e desalinhados num sábado, dez da manhã. Têm o chute mais poderoso que o do Ronaldinho e cantam melhor que Djavan. Pai é quem guarda o sono da gente. É o cara que vem às três da madrugada nos salvar do Bicho Papão, que espalha seus tentáculos verdes e enormes por debaixo da cama. Quem nunca teve medo do escuro levanta o dedo? Era só chamar Paaaaaaaaai!, nas mais diversas entonações, e lá vinha o clone do Super Homem espantar o malvado. Se pensarmos apenas nas duas primeiras letras desse mantra, Pai é parceria.

Pai e não pão é nosso a cada dia, todos os dias e sempre. Pai tem o braço estendido. Não tem perigo; o Pai te segura. É assim desde sempre. Lembram de quando a gente está aprendendo a andar de bicicleta? O Pai segura atrás do banco e não tem rodinha, não - a mão do Pai agüenta até um trator. E quando a vida já não tem gosto de tutti-frutti e a gente quebra a cara, ele conserta. Pai é Pãe. Agora tenho certeza: foi erro de digitação.

2 comments:

Macfuca said...

me vi e revi neste texto, parabéns!

Unknown said...

Nossa, só hoje, 29/08/07 li esse texto. Me emocionei muito, principalmente porque no último dia 25/08/07 fez 7 anos que meu pai virou estrela, sei que continua cuidando de mim e meus irmãos, mas faz uma falta, por tudo o que foi dito no texto e muito mais.....sim, foi erro de digitação!! Parabéns para quem o escreveu e parabéns ao Paulo, cara queridão que publicou o texto no blog. Beijo Paulo.