Thursday 6 March 2008

RODOLFO NÃO TINHA EXPLICAÇÃO...

Rodolfo era um cara legal. Tranqüilo nas relações pessoais e atento ao comportamento humano. Muitas vezes ríspido, pois não tinha muita paciência com coisas que não eram realmente importantes no seu universo. Casado, pai de dois filhos, quase 40 anos e uma vida cheia de histórias pra contar. Muitas vezes tranqüilo, mas na maioria delas, estressado. Tinha uma bela relação com as artes, adorava cinema e tinha poucos amigos. Mas os poucos eram amigos de verdade. Rodolfo tinha uma capacidade incrível de discernimento quando fazia amizades.
Mas descrevi o cara pra contar o que aconteceu com ele, que foi sem dúvida uma das coisas mais incríveis e inexplicáveis que eu conheço.
Rodolfo tinha uma sobrinha de 20 anos, que ele viu nascer e tinha o maior apreço por ela. Ela, já mulher, tinha coisas que o Rodolfo se identificava como a música, a forma de vestir e as atitudes. A menina era rock.
Nascida no interior e morando ainda por lá, ela veio para a capital para assistir a um show internacional que o Rodolfo, inclusive, a levou. Tudo tranqüilo, a banda fez parte da adolescência musical de Rodolfo, ele tinha haver com aquilo e foi ao show com o maior prazer. Ela tinha longos cabelos vermelhos. Usava preto. Pulseiras, botas, correntes e piercings, adolescente, inteligente e querida. Mas isso só pra descrever a guria, que era parente do Rodolfo.
Foram ao show. Tudo certo. Ela estava hospedada na casa do Rodolfo e ficaria uns dias, visto que a viagem de volta era longa.
Dois dias depois, a sobrinha já tinha partido e Rodolfo apaixonado por sua mulher, chega em casa cheio de afeto e tesão, aquelas coisas que a gente conhece, e investiu na felicidade de um momento a dois. Maravilha, tudo rolando bem até o momento em que a senhora do Rodolfo, numa excitação total, descobriu um longo fio de cabelo na região pubiana do marido. Estava escuro, ela ascendeu a luz e constatou que o fio era longo e vermelho. Ela tinha cabelos castanhos e curtos. Criou-se o clima mais estranho dos últimos anos naquele momento. Ela furiosa, porque imediatamente já havia feito todas as associações possíveis, pergunta para o marido, mais surpreso do que ela, o que era aquilo? Mas no maior tom de intimação, já com uma expressão de horror, por pensar na possibilidade do Rodolfo ter se envolvido com a sobrinha. Rodolfo, surpreso, mas ao mesmo tempo tranqüilo respondeu sem pestanejar: Não sei. E um breve diálogo se travou.
Mulher – Não acredito no que eu to pensando!
Rodolfo – Olha, seja lá o que for não é!
Mulher – Mas é a nossa sobrinha!
Rodolfo – Mas tu pensa que eu sou maluco?
Mulher – Eu te mato!
Rodolfo – Por favor! Não fale isso!
Mulher – Me explica esse fio enrolado no teu p...!
Rodolfo – Já disse, não sei!
Mulher – Sei...
Rodolfo – Então me explica!

E imediatamente todo o tesão foi por água abaixo. Rodolfo ali pensativo sobre o lance, ela virada para o outro lado sem dizer uma palavra. E assim a noite acabou.
Mas Rodolfo não deixou a coisa desse jeito, argumentou que talvez esse fio de cabelo tivesse ficado em alguma toalha, em alguma parte da casa e que possa ter sido transportado sobrenaturalmente até suas roupas. Sim ele havia ficado sozinho com a sobrinha em casa, porque imediatamente no dia seguinte ele havia passado mal e não tinha ido ao trabalho. Mas isso não significava nada. Porque não existia a menor possibilidade de isso acontecer dentro da cabeça dele. Rodolfo tinha princípios, isso era tudo.
E assim essa historia ficou, ele tranqüilo e ela com uma pequena pulga atrás da orelha. Mas preferiu confiar no marido, afinal de contas, estavam juntos há muito tempo.

Sunday 2 March 2008

ESQUECI QUEM EU ERA!!!!


Tava aqui, revendo fotos, lembrando de alguns momentos da minha vida. Lembrando de algumas pessoas que eu nunca mais vi. Lembrando de várias coisas que eu gostava de fazer. Pensando nas risadas e nas coisas engraçadas que eu vivi. Ordenando a memoria, tomando um chimarrão, comecei a me dar conta de que eu estava esquecendo quem eu realmente era. Sim!! Porque depois de tantas outras preocupações, tantos outros pseudo-motivos que entortaram meus objetivos, eu "era". Lembrei de quanta energia eu já direcionei para as coisas que eu não queria, e elas, por receberem essa potente carga de pensamento, aconteceram.
Lembrei que faz algum tempo que eu não escuto musica como um amante. Que muito tempo eu não toco como um músico, o que eu realmente sou. Que eu perdi o encanto - ou melhor, guardei em algum lugar- e agora preciso dele novamente. Porque isso me manteve vivo. Isso me levou muito mais longe do que qualquer outra possibilidade. Isso, a musica. A condição de poder realmente tocar um instrumento, sentir o poder da melodia e das harmonias, viajar no ritmo. Isso antigamente me deixava totalmente em outro mundo. E nesse mundo eu nunca mais estive. Quero voltar.