E PÕE PESADELO NISSO...

Eu passei uma noite ruim. Sonhei com algumas coisas que realmente me deixaram sem o menor sono, acordando e respirando com intensidade e com medo. Num primeiro momento estávamos numa cidade do interior, não sei bem onde, mas uma cidade que era tomada por colonos, acho que ate italianos. Minha mulher havia sido estuprada e eu sabia quem tinha feito isso. Esperava como uma raposa o momento de acabar com aquele indivíduo. Os dias passavam (ainda bem que isso foi um sonho) e uma tarde qualquer naquela cidade, passa ao meu lado o dito homem, inclusive, caminhando em direção a Ana. Não pensei duas vezes. Me atirei no cidadão com todo a fúria que eu tinha, e em poucos segundos, estava golpeando seu rosto com um paralelepípedo. O estranho disso e que ao mesmo tempo em que eu fazia isso, lembrava daquela cena inicial do filme Irreversível, onde um homem pelo mesmo motivo que o meu, desfigura o rosto de um outro homem ate a morte. Era a mesma coisa, fui golpeando ate ver os ossos da face se esfacelando, bem ali na minha frente. O curioso também era que eu sabia que esse homem tinha família e filhos e que as crianças dependiam dele, e muito. Mas não sei mais quem ele era. Feito isso, deixei o corpo dele ali mesmo, numa espécie de canteiro, com uma vegetação meio alta, e fui embora.
A casa que eu estava era em um local mais alto e da janela eu conseguia ver uma parte do corpo, mesmo que longe dali, mas dava pra ver.
Na minha cabeça passavam duvidas e certeza sobre o que eu havia feito, e ao mesmo tempo um alivio por saber que esse homem não faria mais isso com ninguém.
No sonho eu conseguia ver a minha expressão de tranqüilidade e de certeza, coisas inacreditáveis quando se fala de homicídio, penso eu.
Eu cuidava pela janela pra ver se alguém que estivesse passando por ali, avistaria o corpo.
Daqui ha pouco, ouço um grito, olho pela janela e lá longe uma mulher de cor escura ajoelha-se em frente ao corpo. Eu ainda sentia alivio.
Essa foi a primeira parte do sonho.
Num outro momento, passeávamos por um shopping desses lotados de gente, e me dou conta de que perdi o meu filho em algum lugar. Lembro perfeitamente da sensação que eu tinha, olhava para todos os lados, desesperadamente, procurando em meio a tanta gente, um pedacinho dele, algo como aqueles flashes onde a nossa visão panorâmica percebe coisas que não são o foco do que procuramos. Eu dizia para a Ana: Pelo amor de Deus, onde esse menino deve estar agora.
Já apareço dentro de um ônibus, guiado pela Ana, que também procura em algum lugar, com muito desespero pelo João, nosso filho.
Andávamos em círculos pelas ruas que contornavam o dito shopping, pensávamos em como seria nossa vida sem ele e o que faríamos se não mais o encontrássemos.
Eu suava, chorava, sentia uma dor indescritível e ao mesmo tempo não sabia mais quem eu era, e isso não parecia um sonho. Lembro que eu pensava: Isso e um sonho, mas não conseguia acordar dele, e fazia força para abrir os olhos, não conseguia.
Enfim, mesmo nesse estado, eu de alguma forma sabia que estava sonhando, e esperava em algum momento, poder me acordar para ouvir o João me chamando e saber que não desfigurei ninguém a golpes de paralelepípedos, e que a Ana não havia sofrido nenhum tipo de violência.Acordei as 09:00, com a frase: Deixa o teu pai dormir, João. Respirei fundo e me levantei, era o meu final de semana de folga...